Olá! Amiga(o) internauta,
Minha História registrada no Museu da Pessoa em São Paulo Nasci
na Vila Anastácio, zona oeste de São Paulo, num domingo ensolarado às 7h00 do
dia 6 de outubro de 1946, primogênito do casal Julião Pereira da Silva
(09/01/1911 – 14/07/1983 - com 72 anos) e Marinetti Vilela da Silva (27/10/1928 – 22/12/2012 - com 84 anos). Meu pai
trabalhava como tanoeiro (desmontava e reformava tonéis de madeira para
armazenamento de mel de milho) na Maizena (Refinações de Milho, Brazil), próximo
da casa onde nasci, rua Fortunato Ferraz, Vila Anastácio.
Do
outro lado do rio Tietê, tinha uma ponte de tambores, onde passavam os bondes
que vinham da Lapa para o Armour. Em 8 de janeiro de 1948, nasceu meu irmão Oswaldo. Naquela
ocasião, meu pai comprou um terreno em Pirituba, na Vila Zatt, também na zona
oeste. Em 1949, após grande sacrifício na construção da casa e várias
dificuldades financeiras, mudamos para a nova casa. Essa casa foi construída
com a planta arquitetônica feita por meu pai em “papéis de pão”, me lembro dos
“traçados” e das aberturas dos alicerces e do erguimento das paredes. Era uma
casa assobradada com um porão, quarto na parte de cima, sala, outro quarto,
cozinha, banheiro, quintal com plantações de cana de açúcar, goiabeira,
bananeira, galinheiro, horta com diversas verduras, uma parreira de uva. Nos
fundos do terreno, tinha espaço para brincar com os amiguinhos, vizinhos etc.
Nessa casa, em 12 de abril de 1951, nasceu a minha irmã Maria Alice. As ruas da
Vila Zatt não tinham asfalto. Quando chovia era triste, lama por todos os
lados. Quando não chovia, era aquela poeira vermelha. Brincávamos
no mato, porque não tinha perigo. Mesmo nas noites de calor, era comum as
crianças ficarem na rua, sempre próximo das casas. Não havia “celular”,
geralmente as mães gritavam chamando os filhos nas longas distâncias, os filhos
identificavam a voz da mãe e respondiam: “Já vou”. E voltavam para casa
obedecendo à ordem materna, “para não apanhar”. Em 25 de janeiro de 1954, no
quarto centenário da fundação de São Paulo, me lembro que foram lançados de um
avião pequenos folhetos em forma de triângulo prateado ou de papel alumínio, em
homenagem à comemoração à data. Foi uma festa em todo o bairro da Vila Zatt e
na capital. Nas casas, eram colocadas placas de alumínio comemorativas. Quando
eu tinha oito para nove anos, já ajudava em casa, catava lata, alumínio, ferro
velho, cobre, vidro, etc., nas ruas dos bairros
próximos da minha casa. Vendia tudo num lateiro na Vila Pereira Barreto. Essa
era uma das atividades que os meninos da minha época tinham. Claro que havia
momentos de estudar, brincar, ajudar em casa, “empinar quadrado” (hoje pipa). Os quadrados não era comprados, eram feitos por nós. Minha
infância foi muito proveitosa, pois, tinha os meus pais sempre acompanhando
meus estudos. Minhas professoras preferidas foram dona Abigail Carrara, dona
Noriza, dona Lourdes, que era a diretora, e o professor Narciso, que me ajudou
no quinto ano. Outra
observação da minha escola, quando alguma professora, diretora ou algum
visitante entrava na sala durante a aula, todos os alunos ficavam em pé e em
silêncio, em respeito àquela pessoa, até que a professora da sala dava ordens
para sentarem. As professoras eram respeitadas, tanto quanto os pais. Eu
estudei no Grupo Escolar Vila Zatt, eram mais de dez salas de aula, classes de
madeira. Foi onde tirei meu diploma do primário e do quinto ano, em 1957. No
Grupo Escolar Vila Zatt tinha o senhor Vitor, que era zelador da escola. Nas
horas de folga, aos sábados, ele cortava o cabelo das crianças. Tinha também a
dona Escolástica, uma senhora negra que cuidava da limpeza na diretoria. Estudei
admissão ao ginásio no Externato Pereira Barreto, em 1958. Na Vila Zatt tinha
uma lagoa ao lado da Fábrica de Papelão Rio Verde, próxima da escola, onde os
alunos do Grupo Escolar que “cabulavam” as aulas iam nadar. Muitas vezes, a
diretora pegava as roupas que os alunos deixavam no mato e os meninos voltavam
pelados para pegar a roupa na diretoria, depois de levar uma “bronca”. Tínhamos
um vizinho, o seu Manuel Alves de Souza, que gostava de curiosidades elétricas.
Um dia, ele montou um “rádio galena”, um aparelho que podia ouvir emissoras de
rádio sem energia elétrica, nem pilha ou bateria. Apenas com um fone de ouvidos
e alguns componentes eletrônicos, com uma antena externa com mais de vinte
metros de comprimento, estava pronto o nosso passatempo diário. Era um espanto
ficávamos horas “a fio” sintonizando algumas emissoras da época: rádios
Bandeirantes, Piratininga, Difusora e outras que não me lembro. Em
1959, com doze anos de idade começou a minha vida profissional, trabalhei na
Relojoaria Mammini na Lapa, eu era office-boy. Fazia todo o trabalho de rua, na
época dos bondes: ia nas fornituras (fornecedores de
peças para consertos de relógios), joalherias e oficinas de joias. Também ía
nos relojoeiros que trabalhavam em casa. Nas horas de folga, eu ajudava os
relojoeiros da loja, lavando as peças de conserto. A importância de ter na
mente a história da nossa infância, o amor ao solo que pisamos e a valorização
do nosso bairro é o que faz o crescimento do nosso povo, pois “quem valoriza,
não depreda nem danifica a propriedade dos outros, pelo contrário, ajuda no
crescimento moral e cívico para o futuro das gerações”. Publicado em 08/janeiro/2010 – registro nº 44086 - Jayme
Pereira da Silva
Por tudo isso, tenho orgulho em dizer: "sou privilegiado, graças à Deus"
Jayme Pereira da Silva
E-mail: jaymensagens2021@gmail.com